23 de nov. de 2014

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O falar do autista

Entre os 12 e os 18 meses de idade compreende-se a fase em que a criança fala suas primeiras palavras e passa a desenvolver mais amplamente sua fala e entendimento (geralmente, a comunicação infantil passa a ser acompanhada de expressões faciais). Nesse período, é importante ficar atento a alguns sinais que podem significar que seu filho tem o transtorno do espectro autista, como:
No capítulo Falar uma Criança do psicanalista e psicólogo Alfredo Jerusalinksy (no livro Escritos da Criança), o autor faz a seguinte distinção: "na psicose simbiótica, a criança de dois anos, por exemplo, olha incessantemente para a mãe para fazer qualquer coisa, suportando o olhar como um mandato unívoco. (...) Um autista se caracteriza precisamente porque não olha para o outro, porque o autista olha qualquer coisa: a luz, a água, mas nega-se a olhar para o outro." (pág. 19). 
Ele ainda afirma que pelo fato do autista resistir a mudanças, ele resiste quando alguma palavra ou expressão muda de sentido, significando outra coisa. Seria por isso que uma criança autista seria um pequeno modelo de mutismo. Enquanto que em crianças com desenvolvimento normal, a compreensão sai das situações cotidianamente repetidas e se amplia em diferentes contextos.
Crianças com autismo costumam usar menos gestos (como balançar a cabeça para dizer sim ou não) ou utilizá-los aleatoriamente. Essas respostas gestuais também podem estar ausentes em crianças autistas entre 18 e 24 meses de vida.




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Autismo em crianças- Indicadores do desenvolvimento e sinais de alerta

     Na tabela acima retirada das Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), feita pelo Ministério da Saúde no ano passado, lista-se os principais sinais de alerta para pais e cuidadores de crianças até os 6 meses de idade. O material foi indicado pela professora coordenadora do Centro de estudos e pesquisa de transtornos do desenvolvimento Cleonice Bosa. A professora ainda comenta que o ideal é identificar esses sinais até os 18 meses de idade para que se diagnostique o mais breve possível. Ela ainda comenta que essa tabela (assim como todas as listas de sintomas) não serve como um teste, mas como um orientador da observação comportamental das crianças. É fundamental a busca por um especialista, pois só ele tem a capacidade de diagnosticar ou não o autismo e outros transtornos do desenvolvimento.
O documento completo pode ser baixado neste link do Ministério da Saúde

Sinais de alerta para Transtorno do Espectro Autista (TEA) de 6 a 12 meses de idade.




20 de nov. de 2014

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Autismo na novela ‘’Amor à Vida’’

Atriz Bruna Linzmeyer fala sobre personagem autista


No ano de 2013, a Globo transmitiu a novela ‘’Amor à Vida’’. Entre os temas recorrentes do folhetim do horário nobre da emissora estava o autismo, representado pela personagem Linda (Bruna Linzmeyer). Entretando as características da autista retratada levantou discussões sobre até que ponto o que foi retratado condizia com a realidade de autistas.

Ana Arantes, pesquisadora do LAHMIEI, da Universidade Federal de São Carlos, diz que o caso de Linda é completamente desconectado da realidade de um autista. A Revista Galileu fez uma entrevista com a psicóloga para entender melhor sua opinião, destacamos alguns dos principais pontos dela abaixo:

Em seu texto, você fala que Linda não apresenta características autistas. Quais são as características que classificam o tipo de autismo que ela deveria ter, caso o personagem fosse consistente, desde o início da novela?

É difícil falar sobre uma personagem de ficção, mas no início da novela parecia que Linda tinha muitos comprometimentos cognitivos, comportamentais e de socialização. Ela poderia até ser ser localizada como autista típica dentro do espectro autista. Em um certo momento da novela foi mostrado que o tratamento mais intensivo dela estava começando naquele ponto, com o psicólogo e o fisioterapeuta, então entendíamos que ela não tinha tido tratamento desde o início da infância. Nesses casos, sabemos que a velocidade do desenvolvimento das habilidades de comunicação e socialização é mais lenta, porque quanto mais cedo e mais intensivo é o tratamento especializado, maiores as chances da criança se desenvolver de maneira satisfatória.

E quais são as falhas do tratamento mostrado na novela?

Sempre me pareceu que o tratamento era mais centrado na mãe do que propriamente na Linda. É claro que a família tem de ter e tem participação importante nas estratégias desenvolvidas pelos profissionais, mas não era esse o foco na novela. Esse é um erro grave e é muito triste que ele tenha sido cometido. Eu acho que isso ainda é resquício de preconceitos errados difundidos por teorias psicológicas ultrapassadas que depositavam a "culpa" do autismo de uma criança no comportamento da mãe. Uma dessas teorias que foi muito famosa por um tempo é a da "mãe geladeira", que dizia que a criança havia se voltado para dentro de si mesma para se proteger da mãe que era refratária ao seu amor. Hoje em dia sabemos que o autismo é um transtorno complexo, de base genética e comportamental e que ninguém é "culpado" por uma criança autista.
O tratamento psicológico da Linda praticamente não foi mostrado, na verdade. Algumas intervenções do psicólogo da novela eram sempre no sentido de "ensinar" alguma habilidade para a menina, só que de maneira muito fora da realidade de uma sessão de intervenção com autistas. Me lembro de uma cena em que o psicólogo mostrava um cartaz para Linda e dizia que ela tinha que seguir aquelas instruções para arrumar a cama. Veja, se uma criança tem sérias dificuldades de linguagem e comunicação, sem nem falar do comprometimento cognitivo, como ela pode seguir regras escritas ou mesmo desenhadas num cartaz?

Qual é o tratamento correto para o transtorno que Linda, em teoria, deveria possuir na trama?

O tratamento comprovadamente eficaz e recomendado para o TEA é o baseado em ABA (Análise do Comportamento Aplicada, na sigla em inglês), que consiste em um plano de intervenção intensiva e precoce, que tem como objetivo ensinar para a criança, de maneira sistematizada, todas as habilidades que ela precisa aprender para ter uma vida saudável, feliz e produtiva. São ensinadas habilidades de comunicação, de socialização, habilidades acadêmicas e de vida diária (como se alimentar, higiene pessoal, se vestir, por exemplo) e até mesmo preparação e treinamento para o trabalho. Parte-se daquilo que a criança já é capaz de fazer, mesmo que seja muito incipiente, e vai-se construindo todo esse repertório de comportamentos ao longo do desenvolvimento da criança até que ela alcance autonomia - ou pelo menos, precise de menos suporte - para ter uma vida normal.

Que obras você recomendaria para alguém que quer entender melhor o comportamento autista?

Eu recomendo o livro Autismo: Não espere, aja logo! - Depoimento de um Pai sobre os Sinais de Autismo, do Francisco Paiva Junior (que também é editor da Revista Autismo). Nele, o autor mostra como foi a experiência de descobrir que seu filho era autista e enfatiza a importância do tratamento precoce e intensivo das crianças com TEA.


  • Confira a entrevista na íntegra aqui: http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2014/02/autismo-retratado-em-novela-passa-longe-da-realidade.html

18 de nov. de 2014

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Por que preciso procurar um psicólogo para meu filho autista?


Por que preciso procurar um psicólogo para meu filho autista?

Grande parte dos psicólogos usa diversas modalidades de terapia da fala com seus pacientes. A maior parte das pessoas com autismo tem um comprometimento das suas habilidades para usar a linguagem. Como consequência, certos tipos de terapia podem não ser uma boa escolha terapêutica para indivíduos com autismo que são incapazes de usar a linguagem falada para refletir ou modificar seu cotidiano.
Entretanto existem muitos autistas que usam a linguagem falada e são muito fortes na verdade, e por isso justamente questões como ansiedade social ou depressão se tornam muito sérias. É claro, um psicólogo trabalhando com um indivíduo autista com estas características precisa ter uma sólida compreensão de como o autismo impacta as habilidades de comunicação. Como diz o Dr. Robert Naseef, um psicólogo especialista em autismo:
“Não é como a tradicional terapia da fala, mas é similar no sentido de construir um relacionamento com o cliente. Indivíduos com autismo tem um modo diferente de pensar, eles não interpretam igual os signos e sinais, tem problemas de expressar o sentido do que eles estão vendo. Um psicólogo pode trabalhar com a pessoa nisso. É quase impossível ter autismo e não ter algum tipo de ansiedade; mas os psicólogos tem boas ferramentas para trabalhar com a ansiedade, particularmente, as ferramentas cognitivas e comportamentais”
O que um psicólogo faz para ajudar pessoas com autismo?
Os psicólogos estão frequentemente envolvidos no processo de diagnosticar o autismo. Eles podem também recomendar tratamentos específicos, e ajudar no processo de avaliação, tratamento e continuidade da terapia como um todo.
De uma forma geral, os psicólogos trabalham com crianças e adultos com autismo e Síndrome de Asperger para tratar questões tais como ansiedade social, depressão, e comportamentos perseverativos (fazer ou falar a mesma coisa de novo e de novo). Dr. Naseef também trabalhou com indivíduos dentro do espectro autista e ajudou-os a lidar com auto-estimulação, interações sociais, a entender as pistas sociais, e a lidar com os relacionamentos na escola e no trabalho.



Veja também –  Autismo: documentário sobre os diferentes tipos

9 de nov. de 2014

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Trazemos aqui uma pequena seleção de filmes que abordam o autismo. Se alguém tiver mais alguma sugestão, compartilhe conosco!



* Meu nome é Rádio- 2003
Baseado em fatos reais, o filme “Meu nome é Rádio”, conta a história de um estudante diagnosticado como autista, que depois de sofrer inúmeros preconceitos, acaba recebendo o apoio de um professor, que também é treinador do time de futebol de uma escola no interior dos Estados Unidos. A amizade e relação de confiança desenvolvida entre os dois modifica não só suas vidas, mas toda a dinâmica do colégio e da comunidade.

*Son-rise: meu filho, meu mundo- 1979
O filme narra a história autobiográfica da família que, na década de 70, fundou o método Son-rise. Polêmico – já que parte dos especialistas defende que ainda não há cura para o autismo – , o filme apresenta como um casal, por meio de uma abordagem intuitiva, conseguiu se aproximar de seu filho, diagnosticado com autismo. Para além da discussão da cura, a história e o método inspiraram trabalhos educacionais e de desenvolvimento da criança autista.



*Uma Viagem Inesperada (2004)
O filme, inspirado em fatos reais, conta a história de Corine, uma mãe que realiza o possível e o impossível para garantir a inclusão educacional e social de seus filhos gêmeos, ambos diagnosticados com autismo. Corine enfrenta instituições públicas, a própria família e sua comunidade para garantir às crianças respeito, dignidade e inclusão efetiva.



O nome dela é Sabine- 2007
Em documentário, a atriz Sandrine Bonnaire discorre de forma muito sensível sobre a vida e história de sua irmã Sabine, diagnosticada com autismo. Em imagens e depoimentos coletados por 25 anos, nos aproximamos de uma infeliz estadia de Sabine no hospital psiquiátrico e do seu reencontro com a felicidade, quando ela passa a viver em uma casa com estrutura adaptada. O filme, nas vozes das irmãs, discute o despreparo de instituições e de parte da sociedade a lidar com o tema e o mal que esse despreparo causa às pessoas autistas e suas famílias.


*A Mother"s Courage: Talking Back to Autism - 2009
Narrado por Kate Winslet, mostra a busca de uma mulher para desbloquear a mente de seu filho autista.

*Temple Grandin - 2010
Baseado no livro "Uma menina estranha", da própria Temple, uma mulher com autismo que acabou se tornando uma das maiores especialistas do mundo em manejo de gado e planejamento de currais e matadouros.

*Ocean Heaven- 2010
Jet Lee interpreta o pai de um jovem autista que tenta a todo custo preparar o mesmo para vida e até mesmo para a morte. É considerado um dos melhores filmes sobre autismo já feitos.



Sobre a Síndrome de Asperger 
*Mary e Max- 2009
Vencedora de inúmeros prêmios, a animação “Mary e Max” conta a história real de Mary, uma garotinha muito solitária, que vira grande amiga de Max, um adulto, diagnosticado com Asperger e que tem grandes dificuldades de estabelecer uma vida social. Por meio de cartas, a amizade acompanha Mary em sua infância, juventude e passagem para a vida adulta e Max, no envelhecimento. Muito sensível, o filme é um verdadeiro convite à alteridade, apresentando como relações de amizade, independentemente de sua configuração ou da forma que se estabelecem, são verdadeiramente educativas.


*Adam- 2009
Começando uma nova vida agora solteira e em novo endereço, Beth (Rose Byrne) se surpreende ao conhecer Adam (Hugh Dancy), vizinho com síndrome de Asperger. Brilhantes, opostos e atraídos um pelo outro, eles encaram o desafio, superam as diferenças e os medos e iniciam uma bela relação.


Loucos de Amor (Mozart and the Whale)- 2005
Donald Morton (Josh Hartnett) e Isabelle Sorenson (Radha Mitchell) sofrem da síndrome de Asperger, uma espécie de autismo que provoca disfunções emocionais. Donald trabalha como motorista de táxi, adora os pássaros e tem uma incomum habilidade em lidar com números. Ele gosta e precisa seguir um padrão em sua vida, para que possa levá-la de forma normal. Entretanto ao conhecer Isabelle em seu grupo de ajuda tudo muda em sua vida, por estar apaixonado por ela.


- Loucos de Amor é baseado na história verídica de Jerry e Mary Newport, narrada num artigo do Los Angeles Times em 1995;

Filme completo e legendado neste link.


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Neste blog, a mãe do autista Guillermo fala sobre como foi labiríntico o caminho para se chegar ao diagnóstico de autismo do seu filho e a importância do diagnóstico precoce: Blog A Mãe do Autista

"Devemos exigir quanto pais e cidadãos, um maior comprometimento nas questões de políticas públicas na área de Autismo, principalmente em relação a diagnóstico precoce; os pediatras dos postos de saúde por exemplo, que lidam com a grande população, deveriam estar mais preparados para essa e tantas outras questões."

8 de nov. de 2014

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Autismo? O que é?


  • O que é o autismo?

O autismo é um transtorno que atinge vários aspectos relacionados ao desenvolvimento. As príncipais características são: 
*déficits na comunicação e na interação social (dificuldade no domínio da linguagem para comunicar-se ou lidar com jogos simbólicos)
*comportamentos repetitivos (repetição de palavras ou frases, ranger os dentes, bater-se, agitar as mãos, por exemplo)
*áreas restritas de interesse (autistas têm um dificuldade para se adaptar a mudanças e fixação por movimentos circulares, por exemplo)
Autismo não é uma doença e sim uma síndrome, ou seja, já se nasce autista.


  • Quais são as causas do autismo?

O transtorno é tão amplo que as causas são desconhecidas. Pode ser proveniente de uma combinação de diferentes genes. Apesar de nenhum gene ter sido identificado como causador de autismo, pesquisadores estão procurando mutações do código genético que as crianças com autismo possam ter herdado. 

A informação genética que os pais transmitem aos filhos, explicam apenas 50% do risco de se vir a desenvolver autismo. Fatores ambientais que tenham impacto no desenvolvimento do feto, como stress, infecções, exposição a substâncias químicas tóxicas, complicações durante a gravidez, desequilíbrios metabólicos podem levar ao desenvolvimento do autismo.

Apesar de extensa pesquisa, não há comprovada ligação entre vacinas e autismo.


  • Quais são os primeiros indícios? 



A criança autista, com um ano de idade não balbucia, não aponta para os objetos nem imita os gestos que os outros fazem, como, por exemplo, se você der tchau com a mão ele não acompanha o gesto. Nestes casos é frequente que até um ano e meio ele não diga nenhuma palavra, não possa explicar o que quer, não siga as instruções que você dá e não responda pelo nome. Também costuma criar e inventar palavras constantemente.
A criança autista, estabelece uma rotina ou ritual específicos que são anormais devido à sua intensidade, como estar sempre com um mesmo objeto. Não gostam de ser tocadas, de que tentem levantá-las ou de qualquer tipo de contato físico.


  • Acho que meu filho tem autismo. O que faço?

Os sintomas costumam estar presentes antes dos 3 anos de idade, sendo possível fazer o diagnóstico por volta dos 18 meses de idade. O diagnóstico do autismo é clínico, feito através de observação direta do comportamento e de uma entrevista com os pais ou responsáveis. Se você suspeita que seu filho tem autismo, faça uma consulta com um médico especialista.

  • Existe tratamento?

Não existe tratamento padrão que possa ser utilizado. Cada paciente exige acompanhamento individual, de acordo com suas necessidades e deficiências. O tratamento do autismo envolve intervenções psicoeducacionais, orientação familiar, desenvolvimento da linguagem e/ou comunicação. O recomendado é que uma equipe multidisciplinar avalie e desenvolva um programa de intervenção. Dentre alguns profissionais que podem ser necessários, podemos citar:psiquiatras,psicólogos,fonoaudiólogos,terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e educadores físicos.
Vale ressaltar que até o momento  não existe uma medicação específica para o tratamento de autismo. O uso medicamento deve ser prescrito pelo médico, e é indicado quando existe alguma comorbidade neurológica e/ou psiquiátrica e quando os sintomas interferem no cotidiano. 


  • Qual é a diferença entre autismo e síndrome de Asperger?

A síndrome de Asperger é um quadro mais brando do espectro autista, no qual não há comprometimento da fala e da inteligência, com interação social peculiar e sem movimentos repetitivos tão evidentes.


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Boas vindas ao blog Movimento Azul

   
O blog Movimento Azul é uma iniciativa de dois estudantes de jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para divulgar de modo interativo e interessante assuntos relacionados ao autismo. O nome Movimento Azul é em virtude do azul ser a cor símbolo do autismo, já que 80% dos autistas são meninos. No dia 2 de abril é celebrado o dia mundial de conscientização do autismo e, nesta data, ilumina-se de azul prédios e monumentos e sugere-se que as pessoas vistam roupas em tons azulados em prol desta causa.
Para iniciar as postagem do blog  Movimento Azul, trazemos uma entrevista exclusiva com Lurdes Moro, mãe do autista Evandro. Neste vídeo ela fala sobre o cotidiano de um autista, como recebeu a notícia de que seu filho era portador do distúrbio, as dificuldades e como é o tratamento.



Entrevista de Giovani Orsato e Daiana Moro.